sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O que será de ti Haiti?

"No Haiti a terra sacudiu-se contra um povo digno. Chamamos todos os governos e organizações a reagir com a mesma força do terrível terremoto. É isso o que merece o povo haitiano. É preciso tecer uma autêntica solidariedade internacional em defesa deste povo, que marcou a história do nosso continente com a coragem da luta por justiça social. Um povo que, se hoje é o mais pobre da América Latina, é porque foi subjugado, levado à miséria pela espoliação sistemática de potências imperialistas. Como nunca, a solidariedade mundial com os haitianos é necessária: urge criar condições para uma reparação histórica das violências cometidas contra o país.

Desde 2004, o Brasil possui um contingente militar no país, e lidera uma operação da ONU. Depois de 5 anos de suposta “ajuda humanitária” da Missão das Nações Unidas para Estabilização Política do Haiti (Minustah), a situação do país permanece desumanamente inalterada. As tropas azuis da ONU reprimiram duramente protestos populares, violentaram as rebeliões civis, e não produziram ações sociais e políticas capazes de redistribuir a renda e criar condições de educação e saúde no país. A prometida “estabilidade política”, ao que parece, teve uma única e exclusiva função: garantir a presença das multinacionais no país e criar novos fluxos de capital. Além de servir como cruel laboratório do exército brasileiro: um campo vivo de treinamento militar permanente disfarçado de “ação pacificadora”.

Nesse momento, com a tragédia sem precedentes do terremoto do dia 12, urge transformar todo contingente militar da ONU em efetiva ajuda humanitária ao país. Não são necessárias armas! Violentar o povo que saqueia supermercados não é a melhor maneira de ajudar. Também não ajuda em nada “proteger os estabelecimentos comerciais” contra uma população desprotegida, faminta e pobre. É urgente enviar alimentos, água potável, roupas, remédios, e outros produtos de necessidade básica inclusive por pára-quedas. A dificuldade de se chegar ao local é um dos principais obstáculos. A situação de caos e desamparo é extrema. O povo de Porto Príncipe dorme nas ruas, com medo de novos tremores. Muitas pessoas ainda estão sob escombros e há uma quantidade indefinida de feridos."

Nunca tive notícia de uma tragédia maior. Já estão falando em mais de 100 mil mortos depois do terremoto que abalou o Haiti. O que mais me dói é saber que em um país já tão castigado pela miséria e pelas desigualdades a situação está ainda pior e que milhares de seres humanos perderam seus parentes e seus poucos pertences, sem ao menos serem amparados, sem ao menos serem consolados.

Dentre as vítimas do terremoto, estava a médica brasileira Zilda Arns, uma das criadoras da Pastoral da Criança e da Pessoa Idosa. Lembro que fiquei maravilhada com um documentário que vi sobre o trabalho de Zilda no combate à fome e à desnutrição infantil. Nenhuma frase para este momento retrata melhor o meu sentimento do que a postada pelo professor Yúdice Randol em seu blog: "Não admira que sua morte espelhe a grandeza de sua vida". Zilda estava em uma missão humanitária no Haiti. Esta tragédia é o exemplo de Zilda me fazem pensar cada dia mais o quanto mantemos distância dos nossos próximos e dos problemas que estão a nossa volta. Acho que precisamos de mais amor e coragem. Que fique o exemplo de Zilda e que, este momento, com toda a sua dor, seja mais uma inspiração do que uma catarse.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Vergonha Nacional!

Recentemente, em uma edição do Jornal da Band, o âncora Boris Casoy, conhecido por seus posicionamentos conservadores, deu para humilhar dois garis que desejavam feliz ano novo, veja a transcrição:
Casoy: "Que merda, dois lixeiros desejando felicidades do alto da sua vassoura."


Na edição seguinte, logicamente, o apresentador pediu desculpas. Mas qual o motivo para alguém pedir desculpas? Considerar do fundo do coração que errou e que todos merecem a mesma dignidade? O que levaria Boris de um dia para o outro a mudar seus valores a este ponto? Assumir que fez uma piadinha infeliz? Mas que tipo de pessoa cultiva um senso de humor que consiste em humilhar os mais pobres? De uma forma ou de outra, longe de representar um fato isolado, este episódio retrata fielmente como pensam parte das elites conservadoras do país e seus correspondentes midiáticos.

Combater este tipo de conservadorismo, ao contrário do que pode se pensar, não é meramente um embate entre dois posicionamentos políticos, entre duas visões sobre o estado ou a economia. Mas é uma luta do verdadeiro progresso contra o atraso, da cidadania e da dignidade contra uma elite caquética e preconceituosa que acha que não faz parte do país e sua "gentinha". O engraçado é que este é o mesmo pessoal que diz que "o povo precisa ser educado", o "povo é ignorante", vive falando absurdos e acha que não tem nada a ver com os problemas do país. Desta vez, no entanto, o rei está nu. E não vamos deixar barato.