
Desde 2004, o Brasil possui um contingente militar no país, e lidera uma operação da ONU. Depois de 5 anos de suposta “ajuda humanitária” da Missão das Nações Unidas para Estabilização Política do Haiti (Minustah), a situação do país permanece desumanamente inalterada. As tropas azuis da ONU reprimiram duramente protestos populares, violentaram as rebeliões civis, e não produziram ações sociais e políticas capazes de redistribuir a renda e criar condições de educação e saúde no país. A prometida “estabilidade política”, ao que parece, teve uma única e exclusiva função: garantir a presença das multinacionais no país e criar novos fluxos de capital. Além de servir como cruel laboratório do exército brasileiro: um campo vivo de treinamento militar permanente disfarçado de “ação pacificadora”.
Nesse momento, com a tragédia sem precedentes do terremoto do dia 12, urge transformar todo contingente militar da ONU em efetiva ajuda humanitária ao país. Não são necessárias armas! Violentar o povo que saqueia supermercados não é a melhor maneira de ajudar. Também não ajuda em nada “proteger os estabelecimentos comerciais” contra uma população desprotegida, faminta e pobre. É urgente enviar alimentos, água potável, roupas, remédios, e outros produtos de necessidade básica inclusive por pára-quedas. A dificuldade de se chegar ao local é um dos principais obstáculos. A situação de caos e desamparo é extrema. O povo de Porto Príncipe dorme nas ruas, com medo de novos tremores. Muitas pessoas ainda estão sob escombros e há uma quantidade indefinida de feridos."
Nunca tive notícia de uma tragédia maior. Já estão falando em mais de 100 mil mortos depois do terremoto que abalou o Haiti. O que mais me dói é saber que em um país já tão castigado pela miséria e pelas desigualdades a situação está ainda pior e que milhares de seres humanos perderam seus parentes e seus poucos pertences, sem ao menos serem amparados, sem ao menos serem consolados.
Dentre as vítimas do terremoto, estava a médica brasileira Zilda Arns, uma das criadoras da Pastoral da Criança e da Pessoa Idosa. Lembro que fiquei maravilhada com um documentário que vi sobre o trabalho de Zilda no combate à fome e à desnutrição infantil. Nenhuma frase para este momento retrata melhor o meu sentimento do que a postada pelo professor Yúdice Randol em seu blog: "Não admira que sua morte espelhe a grandeza de sua vida". Zilda estava em uma missão humanitária no Haiti. Esta tragédia é o exemplo de Zilda me fazem pensar cada dia mais o quanto mantemos distância dos nossos próximos e dos problemas que estão a nossa volta. Acho que precisamos de mais amor e coragem. Que fique o exemplo de Zilda e que, este momento, com toda a sua dor, seja mais uma inspiração do que uma catarse.