terça-feira, 27 de dezembro de 2011

“um dia pra destilar o tempo. porque o tempo também destila os corpos” (trabalhador do mar)

O circo está morrendo! Ora, mas se o espetáculo não pode parar, como sempre ouvimos, o que se há de fazer? Onde estão as crianças que esperam o circo chegar ano após ano? Que tentam fugir com ele quando se vai? O circo morreu!!!?
O que eles querem é que assim tu penses.

Nas mais subterrâneas entranhas habitam as microrevoluções. Nos corpos, nos entres dos enquantos, nas ruas de rios e sons de mata fechada. Fechava, pra abrir-se em vísceras as potências de vida. Criatividade, afetividades, sexualidade, vitalidade e transcendência. Em cada átomo de existência, pulsam as vibrações vitais, a cada limite superado, medo enfrentado, a cada dor calmamente acolhida e vivenciada até que cesse...
 
A arte está nas vísceras, não nos genes. Há que se descobri-la, libertá-la. Sobra de vida no circo o que falta de valorização. Sobra de multiplicidade, o que falta de multiplicadores. É compreensível, afinal, o circo não se institucionalizou. Ora, mas se me dirás que ministérios e fundações são formas sorrateiras de aprisionamento institucional, o que posso te dizer, se não da inventividade das artes, em fazerem-se contra-molas de resistência do centro da própria engrenagem. Arte como direito é conquista, e não engane-se pelo contrário. O que eles querem, é que assim tu penses. 
 
Nas reinvenções e revoluções nos corpos, dançam os modos de re-existência. Desafiando a matéria, as leis, a gravidade, a ciência, o sistema, e tudo o mais que for aprisionante, até a dor, os artistas ousam ir até onde está o que há de mais perigoso: as liberdades. Militantes, genuinamente libertários.
 
Escolheu viver de arte, que tal?
Escolheu viver de liberdades e libertações. De inventar magias, espalhar sentires, e guardar encantos, sem amarras, pra lá de onde os olhos fecham.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Clichês de Amor

Todas as mulheres inteligentes foram queimadas vivas na santa inquisição... todos os gênios do sexo masculino foram guilhotinados pela igreja na idade média. Só sobraram os burros... talvez um ou outro culto tenha restado... mas, eles foram obrigados a se esconder para não morrerem também.

Quem sobrou da nossa humilde espécie, deram a nós, continuidade até hoje. Em um mundo onde o sexo masculino e o feminino jamais entrariam em harmonia, pois o masculino estava no poder e estava feliz com isso... muitas coisas foram destruídas.
Mas, a primeira delas, foi, sem dúvidas, o amor.
Ele foi simplesmente estraçalhado, cortado, repicado, para poder caber nas normas religiosas e sociais. As partes inúteis do amor foram todas tiradas. Depois de anos de evolução, adivinha só...

Muitas coisas foram reconstruídas! As igrejas da idade média, lindas, como acervo histórico, os objetos de tortura que foram usados nos gênios, as guilhotinas, as vestimentas, os acervos de guerra... tudo para formar maravilhosos museus que nos trazem saudades da antiguidade, mas, ninguém... eu disse NINGUÉM até agora teve sequer vontade de reconstruir o amor!
Não que eu seja contra qualquer reconstituição de fatos históricos... pelo contrário... acho importantíssimo! Mas, a história é ciência... e o amor? Onde ele... aleijado, cortado, torto... pode se encaixar nesta história toda?
As pessoas nos inventaram frases feitas sobre o amor, para que quando as disséssemos, não precisássemos refletir, assim, não teríamos sequer que pensar no amor. Como um significado no dicionário... porém, deturpado.

Mas, se formos algum dia, reinventar o amor, tornando a transformá-lo em um sentimento... teremos que nos livrar imediatamente de alguns clichês.
“Nada melhor para superar um amor, que outro amor”... primeiro, não se supera um amor! Se você realmente ama alguém, não pede nada em troca... Vamos então, se vai dizer algo como isto, coloque apenas a sua cara a tapa, não a do amor! Isso é o que você, de forma ignorante e egoísta, com medo de sofrer resolveu dizer... e não tem nada haver com o amor! Então, vamos refazer o clichê:
“Nada melhor para esquecer aquele palhaço que não satisfez meu egoísmo, do que qualquer outra pessoa... contanto que essa o faça!”

Agora sim! Não é são transformar uma palavra como o amor em algo que deve ser superado e eliminado.

“Ele não me merece!”. Eu rio quando ouço esta! Pois tenho a perfeita tradução: “Sou um bibelô na prateleira, e ele não pôde me adquirir”.
A pessoa que diz essa frase... especialmente se for mulher, está se colocando na condição de objeto... ele não me merece, portanto, não pode usufruir do conforto que eu proporcionaria.
“Tal pessoa não é para mim.”, seria perfeitamente traduzida em “Quem precisa do amor de tal pessoa, se eu tenho o meu próprio”. E por aí vai...
“Senti uma química entre nós” = “Acho que a sociedade deixaria nós dois relacionarmo-nos”
“Você é perfeito para mim”=”Você é burro o bastante para suportar um relacionamento sem quaisquer cisco de amor, quem dirá de perdição”
“Custe o que custar, eu vou te esquecer” = “Renego o amor incondicional até a morte!”
“Você é tudo o que eu sonhei para mim”= “Você corresponde exatamente às características estereotipada que a sociedade me convenceu a gostar... posso exibi-lo (a) para os meu amigos (as)?”
“Eu gosto de você”=”Não vou muito com a sua cara, mas... fica na reserva!”
“Eu adoro você”=”Eu gosto muito de você, mas, se disser que te amo, você vai me interpretar mal”
“Eu amo você”= “Finalmente! Encontrei alguém não fumante, virgem, não-crítico, da mesma religião que eu, mesmo nível social, e com uma beleza que nenhum dos meus amigos vai botar defeito, e uma educação que a minha mãe vai adorar! Você é perfeito para mim, de acordo com o que a sociedade quis que eu acreditasse... agora... vejamos se você é burro o bastante para acreditar que eu me preocupo com você... se for burro... meu deus, você é perfeito! Quer se mudar lá para casa?”
“Eu já te superei”= “O único que importa nessa história sou EU!”

Exagero? Mas, é claro que não! É assim que a humanidade age. É nesta coisa imunda... nessas negociações obscenas que o nosso puro amor foi transformado!
E esses clichês são apenas uma amostra do que os relacionamentos que a humanidade inventou fizeram com o amor... existem coisas piores! Ninguém mais sente o amor! As pessoas só falam dele... e falar dele, só o vulgariza mais.
“Você me traiu, não te perdoarei!” = “O que? Você não me pertence? Como ousa? Bom... já que nunca te amei mesmo, a única coisa que terei que superar, é p fato de estar acostumada com você!”
“Quero um tempo para pensar...” = “Estou acostumado com você! A sociedade está satisfeita com nosso relacionamento! Mas, eu não te amo nem nunca amei! Dá pra eu ficar pelo menos um pouquinho longe de você para eu sentir saudades do nosso amor de costume, e conseguir suportar a nossa relação?”

Claro, eu não sou a dona da verdade. Existem milhares de outros significados que podem ser atribuídos a estas frases... mas, nenhum deles dirá do amor verdadeiro. Acho verdadeiramente, que se as pessoas vão desestruturar o amor dessa forma dizendo essas coisas “muy românticas” sobre ele... então... deveriam todas ficarem quietas!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

da lei natural dos encontros...

E do cuidado fez-se encontro.
Do abraço, um lugar pra se ser.

Reconhecer-se sem palavras explica aos sentidos o que eles escorrem, e a razão não dá conta.
Não há lugar de se ser, lá.
Logo nessas an.danças onde as palavras bailam os afetos, e recriam-se em caminhos dos mais belos de que se teve notícia. Delas nem se tem mais precisão.
Os olhares se bastam. das horas que se foram, é o que fica.
Da busca que não termina, faz-se o que se planta para o porvir.

Quando o mundo se vira. A roda gira. A maré segue.
Desse mundo-quase todo, dos quilômetros que separam faz-se um céu que une.
Do abraço o lugar pra se ser. E pra onde fugir agora, o pensamento."

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Libação



É do nascedouro da vida a grandeza.
É da sua natureza a fartura
a ploriferação
os cromossomiais encontros,
os brotos os processos caules,
os processos sementes
os processos troncos,
os processos flores,
são suas mais finas dores

As conseqüências cachos,
as conseqüências leite,
as conseqüências folhas
as conseqüências frutos,
são suas cores mais belas

É da substância do átomo
ser partível produtivo ativo e gerador
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza

É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la,
cheio que é o seu princípio

Todo vazio é grávido desse benevolente risco
todo presente é guarnecido
do estado potencial de futuro

Peço ao ano-novo
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações:
nos livrem do infértil da ninharia
nos protejam da vaidade burra
da vaidade "minha" desumana sozinha

Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar
nos amesquinha.

A vida não tem ensaio
mas tem novas chances

Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!

Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores

Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão!

Por Elisa Lucinda