domingo, 29 de março de 2009

Amor e Utopia

Alguns dos meus amigos dizem que eu sou melhor na prosa do que na política. Pode ser. O certo é que as grandes paixões humanas sempre me envolveram demasiadamente, talvez por serem "demasiadamente humanas". E não entendo a paixão como algo necessariamente irracional. A paixão é abnegada, forte, quase intransigente. Mas quando ela é verdadeira, desconfio que parta assim de princípios muito conscientes, de causas justas, as quais se amam porque se acredita e se acredita porque se vive e se reflete.A paixão está sempre pronta pra fazer o caminho inverso rumo à morte, quando cessam os sonhos e alguém indigno ainda tem o despeito de perguntar: e agora, José? Mas a paixão revive a cada fagulha de esperança, cujo maior alimento é a evidência de que algo ainda existe e queima, e contagia, e que não é pra sempre só pra poder renascer, recomeçar e espantar o mundo inteiro.Talvez neste momento a paixão do "mundo que compreende e amanhece em paz", redimido pelo amor de dois seres, se cruze com o amor destes pela humanidade e suas utopias, e seus grandes projetos e suas mãos sedentas por fazer história.Este tipo de paixão sempre me pareceu um tanto mais interessante. Não sei se um dia vou achar um alguém que ache romântico amar ouvindo a "Internationale", mas, mais do que nunca, o amor e a utopia não me parecem tão contraditórios assim.