domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carnaval: a festa do vale-tudo!


O carnaval é definido como “liberdade” e como possibilidade de viver uma ausência fantasiosa e utópica de miséria, trabalho, pecado, obrigações... e deveres. Trata-se de um momento onde se pode deixar de viver a vida como fardo e castigo. É, no fundo, a oportunidade de fazer tudo ao contrário: viver com excesso de prazer, de riqueza, de alegria, de riso; de prazer sensual que fica – finalmente – ao alcance de todos.
Este sentido de “pode tudo”, que segue mais ou menos a lógica do “jeitinho” no dia-a-dia ganha força neste período carnavalesco. Como se fosse uma catarse coletiva há uma euforia no ar – mesmo de quem está distante da chamada folia. Não se trata de uma festa... É a FESTA.

Sai o uniforme, entra a fantasia; Saem 08 horas de trabalho, entram 08 horas atrás do trio elétrico, do frevo, das escolas de samba. Tudo pelo prazer, tudo pela sensação de liberdade que a maior festa popular do mundo oferece. Neste mundo de prazer e alegria, todos os outros assuntos ficam em segundo plano. Sob a justificativa do bordão “É carnaval!”, fatos importantes ou relevantes são deixados de lado. Ou mesmo o que acontece ao lado do folião é desprezado, esquecido.

O carnaval de Salvador recebe o título de “maior festa com participação popular do mundo”. Estima-se 2 milhões de foliões atrás dos trios elétricos de seus artistas preferidos ou não. O antigo folião pipoca, aquele que não saía em blocos com abadas ou não comprava seu acesso a camarotes, está em vias de extinção. Ainda há a participação popular nos blocos menores, mas estes não saem durante o Jornal Nacional. Outro aspecto que merece atenção é a violência policial utilizada, claro, nos “ppp’s”: Pretos, pobres, periféricos. Assistindo a cobertura do Carnaval pela TV tudo é muito bonito e democrático. E é só festa e alegria.

Exploração sexual de crianças e adolescentes que aumenta durante este período, hospitais lotados com pacientes que extrapolam na festa e arrumam confusões, acidentes de trânsito por alcoolismo que a cada ano batem recordes, tanto nas cidades como nas estradas... Todos estes assuntos são relegados a segundo, terceiro plano. O negócio é a folia, a festa, o vale-tudo, a todo e qualquer custo... Mesmo que o custo seja um abadá comprado por 3 mil reais ou o aluguel de uma quitinete por 4 mil reais por 4 dias.

Não pretendo tornar este texto negativista ou conservador. Não é a intenção. Carnaval é mesmo uma grande festa e há diversão para todo gosto e bolso. Mas viver 1 semana distante do “mundo chato e uniforme” também não é boa idéia: Mais um bebê é encontrado no lixo em São Paulo. Mesmo com toda as festividades ocorrendo no país, não dá pra desprezar isso.